O uso de cigarros eletrônicos (também conhecido como vape ou pod) por crianças e adolescentes tem colocado as escolas em alerta. Há inclusive diversos relatos de pais de alunos de escolas da região do Vale do Paranapanema cujos filhos e filhas estão fazendo uso do dispositivo nos banheiros, no fundo da sala de aula ou nas quadras. Os jovens enviam mensagens de celular uns aos outros para marcar encontros em áreas mais reservadas das escolas, onde fumam juntos. O uso também ocorre fora do colégio, na saída da aula ou no intervalo. O desafio do cerco ao cigarro eletrônico, no entanto, é grande: como são discretos (alguns se parecem com pendrives), podem passar despercebidos pelos professores. Os dispositivos funcionam por meio de uma bateria que esquenta um líquido interno (uma mistura de água, aromatizante alimentar, nicotina, propilenoglicol e glicerina vegetal). O dispositivo é tragado pela boca e cria uma fumaça branca e sem cheiro ou com um cheiro que se dissipa rapidamente no ar. Os estudantes fazem ainda vaquinhas para comprar cigarros eletrônicos. Apesar de proibidos no Brasil, eles são facilmente encontrados em tabacarias, lojas de conveniência e redes sociais. Na escola, são passados de mão em mão ou dentro dos estojos. Em alguns casos, os jovens já conhecem os riscos da substância (são cancerígenos, viciantes e causam danos aos pulmões), mas usam como forma de pertencer ao grupo ou como válvula de escape para questões emocionais. Substâncias cancerígenas A presença de nicotina nos líquidos dos vapes está relacionada diretamente com o desenvolvimento de dependência química. A nicotina é uma substância altamente viciante que, além de impactar a saúde cardiovascular e pulmonar, também desencadeia modificações no sistema nervoso central, influenciando o estado emocional e comportamental do usuário, sobretudo em adolescentes, já que o cérebro continua em formação durante essa fase. Adicionalmente, os líquidos utilizados nos vapes podem conter substâncias químicas com potencial cancerígeno, como formaldeído, acetaldeído, acroleína, nitrosaminas, metais pesados, flavorizantes, compostos orgânicos voláteis e outras combinações ainda desconhecidas, liberadas durante a vaporização. Conforme sugere a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de cigarro eletrônico deve ser encarado da mesma forma que o tabagismo quanto aos malefícios à saúde. De acordo com a organização, os vapes são tão prejudiciais quanto o cigarro convencional, aumentando o risco do desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como: câncer de traqueia, brônquios e pulmão; leucemia mieloide aguda; câncer de bexiga; câncer de pâncreas; câncer de fígado; câncer de colo de útero; câncer de esôfago; câncer de rim e ureter; câncer de laringe; câncer na cavidade oral; câncer de faringe; câncer de estômago; câncer de cólon e reto. Portanto, a ideia de que os vapes poderiam ser “menos prejudiciais” à saúde do que o cigarro convencional e até mesmo ser utilizado para auxiliar no processo de parar de fumar é um mito, mesmo na ausência de nicotina em sua composição. A falsa ideia de “vapor” associada ao cigarro eletrônico ajudou a disseminar essa percepção. Os vapes não produzem apenas vapor de água, como se chegou a difundir. Na realidade, o aquecimento do líquido no dispositivo produz um aerossol, no qual já foram detectadas quase 2 mil substâncias, muitas das quais ainda são desconhecidas.
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