Com o início da Quaresma, marcado pela Quarta-feira de Cinzas ( no dia 5 de março), a Igreja convida os fiéis a um período de reflexão, conversão e renovação espiritual. O padre José Martins Cardoso, pároco da Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, de Maracaí, explica que a Quaresma é um tempo propício para o renascimento da fé e o fortalecimento da caminhada cristã.
Segundo o sacerdote, esse período de 40 dias é um grande retiro espiritual, no qual os fiéis são chamados a se aproximar de Deus, renovar sua fé e transformar sua vida. “A Quaresma não é um tempo de tristeza, mas de renascimento. Não significa apenas sofrer ou renunciar, mas fazer morrer aquilo que dentro de nós gera morte, destrói nossas relações e nos afasta de Deus”, destacou.
O padre José Martins enfatiza que a vivência da Quaresma se baseia em três pilares fundamentais: oração, jejum e caridade. A oração é vista como o primeiro degrau dessa caminhada espiritual, pois permite a reconexão com Deus. “Menos distrações, mais escuta. Não basta rezar por hábito, é preciso rezar com o coração”, pontua. O sacerdote lembra que a oração verdadeira não afasta os fiéis do mundo, mas os torna mais humanos e conscientes de sua missão.
O jejum vai além da abstenção de alimentos, sendo um exercício de renúncia a tudo o que afasta o cristão de Deus. “O verdadeiro jejum não é só deixar de comer carne, mas deixar de alimentar tudo que nos afasta de Deus e dos irmãos”, ressalta. Ele menciona o jejum do egoísmo, do desperdício e da superficialidade como práticas que ajudam a fortalecer a fé e aproximar os fiéis da verdadeira essência da vida cristã. “Talvez hoje devêssemos nos afastar um pouco mais das redes sociais e nos aproximarmos mais de Deus, passando mais tempo com a família e em oração”, sugere.
Já a caridade é entendida como um ato de amor e doação ao próximo. “A caridade não é dar o que sobra, mas partilhar o essencial. Quem ama vai ao encontro do outro sem esperar retribuição”, reflete o pároco. Ele destaca a importância da caridade dentro da própria família e nos ambientes de convívio, ressaltando que a falta de sensibilidade com o outro pode ser um obstáculo para a vivência plena da fé.
Outro aspecto essencial da Quaresma é a busca pelo sacramento da confissão, que simboliza o reencontro com Deus. O pároco de Maracaí compara o ato da confissão com a parábola do filho pródigo, destacando que Deus está sempre pronto para acolher aqueles que se arrependem e desejam recomeçar. “A confissão é uma maneira de religar-se com Deus. Quando o penitente se confessa e recebe a absolvição, ele encontra um novo recomeço e se purifica das feridas dos pecados”, explica.
Para aqueles que estão afastados da fé e desejam viver a Quaresma de forma mais intensa, a recomendação do padre José Martins é clara: “Volte para Deus, busque a reconciliação e o sentido da vida. O período quaresmal é uma oportunidade para recomeçar e encontrar um novo propósito em Deus”, enfatiza.
Quaresma e Semana Santa
A Quaresma é também um período de preparação para a Semana Santa, momento em que a Igreja revive os últimos dias de Jesus Cristo antes da Ressurreição. Durante esse tempo, os fiéis são convidados a meditar a Palavra de Deus, praticar a Via-Sacra, buscar o sacramento da confissão e aprofundar sua fé.
“Na Semana Santa, acompanhamos de perto o grande amor de Deus por nós. Celebramos desde a Missa dos Santos Óleos, onde são abençoados os óleos sacramentais, até a Quinta-feira Santa, que marca a instituição da Eucaristia e o gesto do Lava-Pés. Na Sexta-feira da Paixão, refletimos sobre o sacrifício de Cristo na cruz, e, enfim, chegamos ao Domingo de Páscoa, que é a grande festa da Ressurreição”, explica o padre.
Ele reforça que a Quaresma deve ser vista como um tempo de compromisso e não apenas um período de práticas exteriores. “É um caminho que exige decisão. O que precisa morrer dentro de nós para que uma nova vida possa nascer? Quem precisamos perdoar? Como podemos amar mais e julgar menos? Essas são reflexões que nos ajudam a viver plenamente esse tempo de conversão”, aponta.
A reflexão sobre a Quaresma, inspirada na primeira leitura do livro da profecia de Joel (capítulo 2, versículos 12 a 18), traz um forte apelo à conversão e à mudança de vida. No trecho destacado, o Senhor convida seu povo a voltar-se para Ele de todo o coração, com jejum, lágrimas e gemidos, ressaltando que a verdadeira transformação não se dá apenas em ritos exteriores, mas na entrega sincera do coração. “Rasgai o coração e não as vestes”, diz a passagem, reforçando que a conversão deve ser autêntica e profunda.
De acordo com o padre, a Quaresma é um tempo de preparação espiritual que convida os cristãos a abandonarem atitudes egoístas e a seguirem Jesus com sinceridade de coração. Para isso, a Igreja propõe três práticas tradicionais: o jejum, que representa a sobriedade; a esmola, que simboliza a partilha; e a oração, que fortalece o diálogo sincero com Deus.
“Essas práticas, no entanto, não devem ser realizadas como demonstrações externas de religiosidade, mas sim com humildade e em segredo, como ensina o próprio Cristo. Diferente dos fariseus, que buscavam reconhecimento público, o verdadeiro sentido do jejum, da esmola e da oração está na transformação interior e na restauração do coração. A conversão quaresmal deve levar a atitudes concretas de bondade e solidariedade, refletindo no dia a dia o compromisso com o Evangelho. Assim, a Igreja vivencia este tempo litúrgico com um espírito de renovação, preparando os fiéis para celebrar, de forma plena, a Páscoa do Senhor”, encerra o padre José Martins.
(Da Redação Grupo GR)